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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, junho 15, 2003
O Homem Que Copiava

Ótimo filme de Jorge Furtado que fala das agruras de André com sua falta de grana, seu trabalho para ele sem importância (e futuro) e sua paixão platônica por Silvia. As qualidades do filme repousam no roteiro bem montado, com falas engraçadas, boa narração off e um ar de naturalidade; também o elenco escolhido, pois isso poderia jogar contra o filme caso os atores não fossem talentosos e certos para os papéis.

A narrativa alterna muito gêneros, a dramática é bem parecida com a de Não Amarás de Kieslowski já que André vê pela janela de seu apartamento a rotina de sua paixão, Sílvia. O desfecho é que é diferente, não traumático e nem só voyeurístico.

Duas belas cenas: como o filme mostra a rotina de Silvia pela janela de seu apartamento, culminando na montagem das partes do quarto dela através do espelho de seu armário; e quando André e Silvia falam do soneto de Shakespeare.

Furtado faz com que Leandra Leal seja muito mais apaixonante e interessante do que a Luana Piovani, aliás brincando com a própria imagem da atriz, uma ironia que nem a própria talvez tenha se dado conta. É perfeitamente compreensível vermos através dos olhos de André o por quê de seu amor por Silvia e não de alguém como Marines (Luana Piovani).

Pedro Cardoso, nem precisa falar, é ótimo, o contraponto humorístico do filme.

Agora as coisas que fazem pensar e até serem consideradas críticas. Primeiro, o tema do filme. Do que exatamente trata o filme? Qual seu ponto principal? Pensamos em dinheiro? Creio ser bem importante para todo o andar do filme. Quais as opiniões expostas no filme sobre o dinheiro? Sua importância, a exclusão dos que não o tem, a possibilidade dos sonhos, do amor, do futuro. Ao mesmo tempo o dinheiro é visto como complicador das relações humanas, com as traições, as ameaças, um valor ilusório (como na cena que André queima as notas falsas). Terminado o filme eu realmente não sabia exatamente o ponto que o filme tenta passar, mesmo que despercebido. Dinheiro é o principal da vida? Sem ele não houve a possibilidade da junção do casal secundário (Pedro Cardoso e Luana Piovani) e fez uma grande diferença para o casal principal (mesmo que vejamos neste caso que o amor nasce antes do dinheiro). O caminho de André para a violência e a marginalidade para terminar com sua amada é um fim que justifica os meios? E o acaso (representado pelo prêmio da loteria) só é possível por outra infração (a troca de notas falsas). É uma glorificação do jeitinho brasileiro? Ou não?

Segundo, a mudança de tom na parte final com o assalto e suas vertentes (o amigo bandido, o pai tarado/ganancioso da moça, o vizinho gordo, etcs) tem que cair em clichês para o público não se assustar com a mudança e o andamento do filme não se alongar demasiadamente. Foi uma boa saída? Particularmente é a parte que menos me interessa no filme, tanto pela sua previsibilidade (nas armadilhas que André tem que cair por causa do roubo) quanto pelo descolamento do real, pois quando começa uma trama para se matar o pai de Silvia e para enganar o amigo bandido o filme foge da familiaridade que tinha conseguido estabelecer até aquela hora com o espectador, já não se fala de nós (personagens e público), mas deles (personagens); voltamos a ser apenas espectadores.

Engraçado (ou irônico) o Rio De Janeiro acabar sendo ao final a imagem da esperança, do "paraíso", longe dos problemas que o sul representa hehe

No todo o filme tem tantos momentos ótimos que essa parte que me incomoda não estraga o prazer do filme.


posted by RENATO DOHO 10:47 PM
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