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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

segunda-feira, julho 14, 2003
Mudanças

Curioso que os dois filmes que vi nesse fim de semana, completamente diferentes um do outro, tenham semelhanças.

Na Solidão Da Noite (In A Lonely Place)

Ótimo filme dirigido por Nicholas Ray com um Bogart extremamente corajoso ao mostrar uma faceta mais negra tanto do seu personagem quanto pelo seu personagem. A história do roteirista envolvido numa morte misteriosa e num relacionamento inusitado nos mostra em vários níveis a solidão do título. O artista que se diferencia dos demais e o homem que se afasta do sentimento. E a mulher que tenta transformar isso. Grande final.

No dvd um extra mostra o diretor Curtis Hanson revisitando o filme, no cenário original que foi reproduzido em estúdio. Ele fala de sua paixão pelo filme, suas interpretações e curiosidades, como a característica dos personagens outsiders de Ray, o final alternativo, o trabalho excelente de fotografia, a visão do filme sobre Hollywood, etc. Um outro extra fala do processo de restauração da película.



Destino Insólito (Swept Away)

Refilmagem de um filme da Lina Wertmüller. Não vi o original, mas creio que era mais forte nos abusos e perversões. O final seria o mesmo? História básica: ricos num cruzeiro, burguesa irritante e mandona tem atrito com um da tripulação e acabam os dois numa ilha deserta, aí a situação inverte. No meio disso tenta-se superficialmente abordar questões de gênero, luta de classes, dependência e mudanças. No final, é uma bomba. Guy Ritchie consegue fazer seu pior filme (não que os anteriores sejam grande coisa). Madonna, musculosa e envelhecida, soa deslocada no filme (além de não atuar, mas isso ninguém esperava mesmo). O filme muda (bem porcamente) de comédia para drama de tons sado-masoquistas (ou uma síndrome de Stockholm?) para um final dramalhão. Ao menos o final tem bela música de Arvo Pärt (Spiegel Im Spiegel). De tão ruim pode-se ver boas coisas (de ruim) como os abusos que Giannini faz com Madonna, além do contexto machista onde o homem ensinará a mulher sobre a vida e como se virar, mas antes sendo sua serva.

No dvd o making of da produção é mais interessante que todo o filme, entre cenas das filmagens Madonna e Guy Ritchie fingem se entrevistar mutuamente. Dá para notar que o filme é quase um retrato do casal, Madonna prima donna e Guy mandão. Enquanto aparece Madonna com seus pedidos e exigências vemos Ritchie no mundo másculo, onde se termina a filmagem do dia para todos (os homens) verem um jogo de futebol ou as brincadeiras "homo eróticas" (como Madonna brinca durante a entrevista) da equipe que se agarra toda hora, mostra as bundas e pratica o jiu jitsu nas horas vagas. Giannini fica de lado, o casal domina tudo. Momentos engraçados nas filmagens mais calientes do casal (no filme), além de um pequeno trecho legal com os filhos do casal (na vida real).



Agora, as semelhanças. Ambos os filmes tocam no ponto de mudança de uma pessoa. Isso é possível? Laurel tenta mudar Dix no filme de Ray, seu temperamento violento. Ela oferece o amor em troca, mas é parte intríseca de Dix como homem e artista ser como é, com suas explosões de raiva, sua suspeita e seu cinismo, também é parte do seu charme inicial. A própria Laurel não muda durante o filme, ela segue o padrão do caso anterior dela, mesmo que em circunstâncias diferentes. Estamos fadados aos nossos demônios internos? O casal do filme de Ritchie também passa por transformações; Peppe muda Amber na ilha, através da dominação e humilhação Amber se descobre apaixonada por ele, e ele também muda ao sentir amor por ela. Só que o final parece afirmar que por mais que se tente as pessoas não mudam, seja por uma questão pessoal ou social.


posted by RENATO DOHO 5:24 AM
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