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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, setembro 19, 2003
A Promessa (The Pledge)

Mais um interessante filme com direção de Sean Penn que já fez Unidos Pelo Sangue e Acerto Final. Aqui volta a trabalhar com Jack Nicholson que está com um ótimo desempenho fazendo um policial prestes a se aposentar que vai se envolver num caso de assassinato de uma garotinha. A trama básica do filme é cheia de clichês: policial se aposentando, busca da verdade como objetivo final, novo relacionamento que vai cruzar com a investigação, coincidências que levarão à suspeitos, teorias malucas que nenhum dos companheiros presta atenção, etcs. Sean Penn coloca nisso algo mais que o distingue (não sei se o livro em que o filme se baseia também tem essa procura de fugir do lugar comum) que fica bem evidente no final, onde a desesperança assume um lugar que tradicionalmente seria do triunfo da verdade. O lado psicológico do personagem principal é melhor trabalhado, quais os motivos por detrás de várias de suas ações (a compra do posto, o relacionamento com a garçonete, a afeição com a filha da garçonete, o risco de deixar a garotinha cada vez mais um alvo para o suspeito, etcs), o que o conduz nessa vida pós-trabalho? Há também uma religiosidade que Penn já trabalhou em Acerto Final, o acaso e a danação da alma (na promessa do título). Por um certo ângulo a resolução perto do final (o acidente) parece dar a Penn uma superioridade ante ao que está contando, é ele como cineasta que nos mostra coisas que ninguém mais está vendo, é ele que bota um caminhão no meio do caminho. O quanto isso é válido? É algo a se perguntar. Ele dá ao espectador o alívio da verdade e também a angústia do protagonista, ele acaba sendo o grande manipulador ao final. Só que essa manipulação é uma forma de mostrar os desígnios de Deus? Ou do cineasta? O final ao mesmo tempo bom e forte pode ser visto como problemático.

Penn conseguiu reunir um elenco de peso em pequenos papéis, o que é uma vantagem e uma desvantagem ao mesmo tempo. Quando vemos na tela em poucos momentos nomes como Harry Dean Stanton, Vanessa Redgrave, Helen Mirren, Mickey Rourke, Robin Wright, Tom Noonan, Sam Shepard, Benicio Del Toro e em menor escala Aaron Eckhart e Patricia Clarkson já se tem meio caminho andado para o público dar uma cara e passado para os personagens, pelo que representam como ícones (Noonan como suspeito de ser um serial killer, Rourke como um ser perturbado, Stanton como um desiludido dono de posto, etcs). Penn só precisa mostrá-los. Por outro lado isso faz com que tudo fique cinema demais, não estamos vendo uma busca real pela verdade porque logo ali vai ter uma estrela de cinema interpretando, aparecendo aqui e ali. Os rostos desconhecidos que tanta força têm não são utilizados como deveriam nesse tipo de filme (boa parte de investigação).

Falando da parte técnica há uma decupagem muito boa e sequências muito bem realizadas como a da festa de aposentadoria do protagonista onde apenas ele está fora de foco, ou a notícia da morte da garota para os pais numa granja. E as paisagens filmadas e os ângulos escolhidos. Penn cada vez mais se mostra um cineasta que privilegia a narrativa visual, seja para contar a história ou simbolizar algo.


posted by RENATO DOHO 1:31 AM
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