RD - B Side
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, novembro 21, 2003
Os Vigaristas (Matchstick Men) ****

Fiquei surpreso com esse filme. Primeiro que é um Ridley Scott bom, coisa que não via desde Thelma & Louise (e poucos outros antes). Segundo que tem um bom Nicolas Cage (que ultimamente me irritava). E terceiro que tem emoção onde eu só veria uma trama de trapaceiros. Essa emoção que sobe a cotação do filme, pois todo o resto é bem realizado, mas seria mais um filme de trapaças (à lá David Mamet). SPOILERS AHEAD - quando começamos a ter idéia do que ocorreu (com Cage no hospital) o fato da filha dele estar no lance e ela mesma não ser filha dele dá um grande impacto. A filha era o único elo do personagem de Cage com a realidade e era uma das únicas certezas dele (e nossas como público), a perda disso abala todo o emocional do filme. E não esquecendo que ele também perde o seu protegido / amigo / "filho". Ficamos tão perdidos quanto o personagem e essa perda de sentido de vida me atrai, eu estava naquele momento na pele de Cage, sofrendo o que ele provavelmente sofria. A participação de Melora Walters (sem créditos) é boa justamente pela persona física dela, ela passa aquele ar de sofredora e solitária que a acompanha desde Magnólia. Não há com ela a esperança de algum elo emocional após a perda da "filha", há um vazio na forma de uma ex-esposa... o que é desesperador.

A cena dele reencontrando a "filha" na loja de tapetes é muito boa no que tem de perdão, afinal o sentimento comum geral seria de raiva ou vingança ou pior, auto-comiseração, mas Cage e ela notam que a afeição que tiveram supera qualquer falsidade, qualquer ilusão, eles são pai e filha mesmo não sendo isso e o laço humano é possível entre qualquer pessoa e não apenas pelo sangue ou coisa assim. Poderosa cena. E não há qualquer indício de vingança por parte de Cage para qualquer um dos envolvidos que o enganaram. É um dos poucos filmes que vi que aborda de forma tão positiva e madura a traição (extedida para qualquer tipo de traição, mas vamos admitir que uma filha falsa é uma traição gigantesca, mais do que traições monetárias, amorosas e outras). Talvez essa atitude zen de Cage possa irritar o público, que pode achá-lo um babaca, ou um simbólico corno manso, eu acho o contrário, mostra coragem. Se a cena final pode soar forçada (que não é, já que é construída durante a trama) e apaziguadora, eu dei graças aos céus que ao menos terminava assim, pois ficaria muito puto se não fosse desse jeito, caso contrário a experiência de ter visto o filme teria sido péssima, sairia do cinema em estado deplorável, achando que todos são falsos e ninguém presta.

Ah, Alison Lohman está ótima! Se passa perfeitamente por uma garota de 14 anos (ela tem 24 na vida real). Uma revelação!

Dogma Do Amor (It's All About Love) **

Estórinha meio banal e a narrativa em algum ponto (quando começa a trama de suspense) fica chata a ponto de eu ter 'pescado' em certos momentos. Sean Penn pouco participa e está ridículo. A cena final é engraçada, mas... e daí?

Made In USA (Idem) ***1/2

Godard mais indicado para iniciados, o que seria uma trama policialesca de Anna Karina tentando saber da morte de seu amado se transforma em outra coisa e no final isso não importa. Muitas referências cinematográficas como sempre (mais nos nomes dos personagens). Participações especiais de Marianne Faithful cantando e Jean-Pierre Leaud.

Tempo De Guerra (Les Carabiniers) ***

Filme anti-guerra de Godard. Apesar de ser mais acessível contando a história de dois soldados indo para a guerra, com humor, o filme não deixa de ser regular e já envelhecido.


posted by RENATO DOHO 8:59 PM
. . .
Comments:


. . .