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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, dezembro 10, 2003
A Humanidade (L'Humanité)

Segundo filme de Bruno Dumont (A Vida De Jesus) que segue o mesmo estilo do anterior com uma cadência lenta. Aqui somos apresentados ao fato principal logo no início, mas só retomaremos isso depois de uns quarenta minutos onde vemos o cotidiano de inspetor da polícia que tem um passado trágico e agora parece estar sempre num estado de torpor e contemplação. A investigação do assassinato da criança fica em pano de fundo e vemos mais os relacionamentos deste inspetor com a mãe, a vizinha (uma paixão platônica) e o namorado dela. O personagem principal é uma pessoa pura que não compreende toda a noção do mal que o assassinato da garotinha traz à tona; seus olhares e atitudes são peculiares (que merecem reflexões ainda mais em duas atitudes que de início parecem incompreensíveis com dois presos). Dumont constroi tudo com grande rigor técnico, com belos e longos planos. Há uma crueza da morte (o close da menina morta no início) e do sexo (entre o casal de namorados) numa paisagem idílica (como Lynch faz em Twin Peaks ou Veludo Azul), como se ao mesmo tempo fossem inseparáveis e opostos. A cena final é enigmática, nos deixando a pensar. Um belo filme.

O Filho (Le Fils)

Excelente filme dos irmãos Dardenne (primeiro que vejo deles, os outros conhecidos são Rosetta e A Promessa). Eles têm uma abordagem física de cinema impressionante, com a câmera grudada no rosto (nuca melhor dizendo) dos atores os seguindo constantemente. Mesmo com essa abordagem diferente o cinema dos irmãos é semelhante ao de Bruno Dumont no que tem de não explicitar as coisas ao espectador. Parece que o ditado deles é "menos é mais" e isso ajuda muito o filme que não tenta fazer com que nos simpatizemos com o protagonista, mas suas ações que o revelem. E os diretores (e ator principal) caminharam por uma tênue linha para equilibrar tanta coisa que o objeto de estudo do filme pode trazer, se fazem demais estragam, se fazem de menos também, como saber balancear tudo isso foi complicado, mas valoriza ainda mais a obra (fazendo um paralelo com o trabalho de marceneiro do protagonista). E também a narrativa não é apresentada de imediato, apenas depois de um bom tempo é que vamos nos dar conta do que o filme quer tratar (e mesmo assim até o final ainda teremos dúvida do que é). É um grande filme que fala de muitas coisas, mas entre perdão, vingança e perdas o que fica de principal é a trajetória do personagem rumo à vida que ele parece ter perdido e neste caminho é que todos esses outros temas entrarão. A atuação de Olivier Gourmet impressiona, ainda mais quando ele atua com a câmera tão próxima e sempre não deixando transparecer as coisas. No dvd um extra especial é uma conversa dos irmãos Dardenne com um crítico (uns 40 minutos) e com o ator principal (uns 20 minutos). Conversa esclarecedora e inteligente onde vemos o processo artístico dos irmãos. Curioso notar que em toda essa conversa nunca é citado outro filme, cineasta ou referência cinematográfica a não ser a própria feitura do filme (e dos anteriores), mostrando que os Dardenne se inspiram muito mais na vida do que no cinema. Tanto a conversa quanto o filme são verdadeiras aulas de cinema. Obrigatório.


posted by RENATO DOHO 2:55 PM
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