RD - B Side
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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, dezembro 21, 2003
Kill Bill - Vol. 1 (Idem)

Enfim, Quentin Tarantino demora anos para fazer um outro filme após Jackie Brown, já antes da filmagens a coisa começa a borbulhar na internet, nas filmagens e antes da estréia então todos podiam ter acesso à quase tudo, aí quando lançam lá fora a distribuidora brasileira adia o lançamento de janeiro para março do ano que vem! Ora bolas, que incentivo maior para que se veja o filme puxado da internet?!

Posto isso é bom que se diga que para mim valeu não ter esperado. Por que? Porque achei o filme legal, bem legal, mas no geral um pouco abaixo do que esperava. Se minha impressão foi essa agora imagine com o filme fervilhando na minha imaginação até março? Eu ia acabar achando o filme fraco!

O que eu esperava? Ação (que há) e diálogos legais (que não há). Desde o teaser o que mais atrai ao filme são as lutas mostradas e é nisso que esse primeiro volume se sustenta, dando mais de meia hora só num cenário em preparação para a seqüência. O tempo no filme muda ao gosto de Tarantino só que desta vez parece que o motivo foi de dinamizar a história (Pulp Fiction também? não sei, teria que rever). Se a história fosse narrada de forma tradicional a metade inicial seria bem monótona, do jeito que está começamos com uma luta que só apareceria no começo do volume 2 e logo após no meio da história teremos um anime para mais ação enquanto Uma Thurman sai do coma e vai em busca de vingança. Depois disso há uma conversa com Sonny Chiba que não chega a ser empolgante ou engraçada, parece ser exclusivamente para homenagear Chiba (imaginem outro ator desconhecido no papel e a cena seria drasticamente reduzida). E finalmente chegamos na esperada luta final (que vai se dividir em 3 partes).

Tarantino fez uma bela salada em muitas cenas, muito pelo uso da música que pode passar de suspense para comédia sem a menor cerimônia. Ouvir trilhas de westerns spaghetti num cenário (e com personagens) japoneses é engraçado e anacrônico. O que dizer da luta final que começa com Don't Let Me Be Misunderstood versão do Santa Esmeralda? Ou no meio da luta com 88 capangas começar a tocar Nobody But Me do The Human Beinz?

Se falaram tanto da violência melhor não esperar tanto. Não há muita violência no filme, pode-se contar nos dedos as cenas violentas levadas a sério. O resto é puro non sense, como um desenho animado, num universo particular (claramente falso por várias passagens de maquete) do Tarantino. Cabeças cortadas que jorram como fontes de água, aliás qualquer parte do corpo desmembrado que faz chover sangue no set, um cara cortado ao meio, isso é uma grande brincadeira que nem pode ser considerada ofensiva.

Muitas coisas parecem ter sido postas para amenização da violência:

- a seqüência do anime se filmada seria bem violenta, como está é o que é, um desenho animado;

- o uso de músicas que parecem fora de lugar ressaltam o lado cômico da coisa, e não uma glorificação ou tensão;

- o sangue esparramado na neve e uma língua que parece borracha ao ser esticada, entre outros recursos, estão ali para sugerir ou tirar sarro da violência;

- a seqüência em p&b da parte da luta onde há mais membros cortados.

Os personagens não são (ou não querem ser) bem construídos, fora o personagem de Uma todo o resto fica no limite do superficial: a braço direito, o estuprador, o fazedor de espadas, a vilã maluquinha, a vilã com passado (é, nem com a história da vida dela dá pra se falar que é um personagem dramaticamente bem construído), o xerife, etcs. Aparecem e somem com rapidez, conforme a necessidade de Uma (ou de Tarantino). É como se Tarantino tivesse queimado os neurônios para planejar as lutas e tenha deixado um pouco de lado o resto.

Quanto a direção muitas vezes o que vemos é o estilo de Tarantino nas cenas paradas, sem muitas frescuras, mas em outras partes (tirando as cenas de ação) ele parece dar uma De Palma em tomadas do cenário de cima, como um grande voyeur que vê todo o quadro ou em tomadas moderninhas como de dentro de um revólver. Nas cenas de ação vemos um outro Tarantino, com muitos cortes e câmera ágil, o que não era comum em seus outros filmes, valendo bastante a coreografia da coisa que Sonny Chiba e Yuen Woo-Ping ajudaram bastante.

Pelo filme ter sido dividido em duas partes essa primeira parte não se sustenta muito sozinha, já que o que seria a grande vilã do filme na verdade é mais uma a ser eliminada, não houve conflitos para que chegássemos a querer ela morta ou não, como no próprio filme mostra, ela é apenas a primeira da lista; e a primeira da lista não chega a ser difícil e nem memorável.

Agora é esperar pelo segundo volume, esperando que seja maior e melhor (maior para superar a luta de Uma com 88 capangas e melhor nos diálogos e construção de personagens).

No geral não é espetacular como Hero (impressionante em muitos sentidos) e não é o melhor do Tarantino. Mas é legal, e acho que isso que o filme almejava (mesmo depois vendo que isso de só ser legal fique parecendo pouco).

P.S. - fetiche por pés? Tarantino coloca três no filme, de Uma (horríveis, com direito a close e uma cena engraçada com o dedão), de Julie Dreyfus (bonitos) e de uma das integrantes do grupo The 5, 6, 7, 8s (normais). Se lembrarmos que Tarantino escreveu a cena de Um Drink No Inferno em que Salma Hayek enfia o pé dela na boca dele...


posted by RENATO DOHO 11:20 PM
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