RD - B Side
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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, maio 02, 2004
Alguém Tem Que Ceder (Something’s Gotta Give) ***1/2 - Nancy Meyers era mais conhecida como roteirista dos sucessos Recruta Benjamim, Presente De Grego e O Pai Da Noiva 1 e 2, este é apenas o terceiro dela como diretora (e roteirista). Mais uma vez volta a parceria com Diane Keaton (quarto filme delas juntas) proporcionando ótimos momentos da atriz (faz tempo que não tinha uma oportunidade assim nas telas) que tem as melhores cenas (a cena na cama é hilária pelo que tem de espontânea e bonita). Claramente é um filme voltado para o publico de meia idade (arriscado já que esse público não vai mais no cinema - será que por isso temos Keanu Reeves e Amanda Peet?), o que alcança os objetivos: a sala que vi tinha muitos casais velhos que saíram sorridentes. O personagem de Keaton parece ser a irmã mais velha de uma linhagem atual que vem de Ally McBeal e Carrie Bradshaw (Sex And The City), isto é, mulheres bem sucedidas profissionalmente procurando um amor, ao contrário do ideário anterior de "não preciso de homem para nada, sou executiva" do feminismo mais radical. Se bem que se vermos bem a personagem de Keaton estava relativamente bem, quem via problemas nisso era sua irmã (feito pela ótima Frances McDormand - aliás nesse filme as maduras são um espetáculo!) que a faz pensar mais detidamente no aspecto emocional. Aí entra Jack Nicholson e há a redescoberta do amor em idade avançada. O problema seria resolver a trama para que a união final (que todos esperam) não atropele os outros personagens, o que realmente não acontece com Peet e Reeves, os dois altruisticamente deixam que o casal siga seu caminho (Pett no início, Reeves ao final) ao perceberem que há amor entre os dois, que pode ou não durar para sempre, mas é o sentimento mais forte entre todos os envolvidos. Talvez as que estejam namorando um cara mais jovem (não sei por que Marilia Gabriela vem na hora na cabeça) não gostem muito do final, mas é que o filme não toca no tema de filhos, o que no caso Keaton-Reeves seria um futuro problemão. No final não soa como se o filme passasse a mensagem de "os iguais que se relacionem: velhos com velhos, jovens com jovens" mas sim que o amor tem que ser levado em conta (o que Keaton sentia por Reeves era atração e algo com o ego, o que Nicholson sentia pelas jovens era só tesão) mesmo se descoberto apenas em idade avançada.

Recém Casados (Just Married) ** - poderia ser engraçada ao apresentar as besteiradas que a dupla faz em sua lua de mel, mas o filme tenta dar um ar de normalidade nas atrapalhadas, quebrando as piadas... isto é, não cortado na risada, mas extendendo para mostrar que aquilo pode ser algo que todos podem vivenciar e assim deixando o público na dúvida do "rio ou não? então não era exatamente ridículo?", um exemplo pequeno: o noivo carrega a esposa para entrar no quarto e ela bate a cabela na porta, logo a seguir ela ri e demonstra como aquilo foi engraçado, mas passível de acontecer com qualquer um. Piada estragada! Piada quase estragada: uma barata no pescoço do cara: há o corte um pouco depois que ela vai tentar passar a imagem de normalidade na cena. Como há mais piadas estragadas do que as não estragadas o filme fracassa.

Madrugada Dos Mortos (Dawn Of The Dead) **** - ótima refilmagem / atualização do filme de George Romero. O começo é tão bom que até deixa a espectativa grande demais para o resto, que decai um pouco, mas mesmo assim não joga contra o filme. O problema é a passagem do exterior para o interior, a situação geral para as histórinhas do pessoal no shopping. Se antes havia a questão dos custos e de uma temática social para ser explorada nessa atualização fica um pouco com menos sustentação seguir o mesmo caminho, quando podia jogar mais com o geral já que o social é deixado de lado. A caracterização dos personagens é boa, com bons atores (destaque para Sarah Polley, Ving Rhames e Jake Weber). Há uma enrolada no meio da trama que alonga em demasiado, mas o ritmo é bom. O final melhora quando volta para o exterior. Não deixa de ser curioso como nestes filmes há, mesmo que não intencional, uma glorificação das armas, um item de necessidade básica, que deve ir muito de encontro com o pensamento armamentista norte-americano do direito à auto-defesa. Mesmo eu que não tenho esse pensamento fico com a impressão (após estes filmes) de que armas são extremamente úteis para sobrevivência em situações de crise imagine quem já gosta um pouco da idéia! Mesmo que depois se mostre a inutilidade delas o recado já foi passado, ao menos duraram mais do que os que não tinham armas (também lembrando do personagem do telhado vizinho, considerado útil por atirar bem e logo a seguir mais útil por ter uma loja de armas). Há também a relação de poder advinda com a posse de armas. Zack Snyder se mostrou bem talentoso (seria dele a ótima idéia de por Johnny Cash nos créditos iniciais?). Só fica o gostinho de querer saber como seria o filme se centrasse naquelas imagens dos créditos ao invés de centrar em alguns indivíduos (já que toda história é assim, apresenta o global e vai para o indivíduo); seria um filme que queria ver.


posted by RENATO DOHO 1:37 AM
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