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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, janeiro 22, 2005
Perto Demais (Closer)



Mike Nichols, quem diria, está numa bela retomada de carreira. Começou de forma brilhante com os filmes Quem Tem Medo De Virginia Wolf? e A Primeira Noite De Homem. Depois teve ocasionais sucessos e filmes elogiados como Ânsia De Amar, Silkwood, Metido Em Encrencas e outros. A partir de Uma Secretária De Futuro ele parecia acomodado, fazendo filmes leves que geralmente acabavam concorrendo ao Oscar, mas sem grande relevância. Com Segredos Do Poder tentou uma volta e fez um belo retrato da era Clinton, mesmo assim só conseguiu voltar à toda quando foi fazer para a HBO um filme (Uma Lição De Vida) e uma minissérie (Anjos Da América). Voltou a saber escolher textos, geralmente vindos do teatro. É o terceiro projeto em seguida que realiza com enorme habilidade neste caminho.

Nichols consegue adaptar a peça de forma que não percebamos sua origem, a não ser quando vemos os diálogos mais expositivos sentimentais, mesmo assim sempre aparecem com grande força visual, seja no aquário, na exposição, no almoço no restaurante, na casa do casal ou até mesmo num quarto de hotel simples. A concentração da ação em 4 atores e apenas neles é perfeita, sem distrações e criações de coadjuvantes explicativos e ideal para mostrar o isolamento destes personagens. Nenhum deles consegue criar um relacionamento real no filme, não que essa seja a intenção, ao contrário, fica perceptível que eles não conseguem se relacionar de forma profunda, pois os jogos e as ilusões são permanentes. É um fator importante que não há familiares na estória ou amigos mais íntimos, fazendo os relacionamentos ficarem mais auto-isolados e propícios para as neuroses. Os pulos temporais também são muito bons. O texto consegue expor muito bem a psiquê masculina nos relacionamentos, onde os dois homens jogam muito bem com a mente do outro, quase de forma homo-erótica. O personagem de Julia Roberts não fica atrás e somente ao final percebemos que a personagem de Natalie Portman também tem essa complexidade (quando a víamos durante todo o filme como a mais inocente e previsível). A questão da verdade é posta em discussão: qual seu real valor? e num relacionamento amoroso, qual seu peso e o seu uso?

A única solução no contexto era todos os protagonistas partirem para outros relacionamentos, para que saíssem do círculo vicioso, para algo mais saudável. E apenas um personagem consegue fazer isso, dando uma esperança ao final.



Todos os atores estão em excelente forma, o que é comum pelo trabalho de Nichols com atores e teatro.

Foi uma sábia decisão dos tradutores daqui colocarem legenda na canção de Damien Rice que abre e fecha o filme, pois é algo que acrescenta e não está ali apenas para enfeitar a cena (e o público brasileiro poderia perder).

Um excelente filme adulto que auxiliado pelo elenco conhecido poderá alcançar um público que habitualmente se afastaria de tal texto.



posted by RENATO DOHO 9:34 AM
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