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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, fevereiro 12, 2005
Menina De Ouro (Million Dollar Baby)



Eis um filme que não precisa de indicações para ser visto, por isso vou falar de coisas do filme que estragarão as expectativas de quem ainda não viu, por isso só leia quem já viu o filme.

Desde que vi o trailer do filme sabia que havia três coisas ali que me interessariam se exploradas como dava a entender (fora o fato de ser o novo trabalho de Clint Eastwood): o trabalho de claro e escuro, a relação fraternal da boxeadora com o treinador (em oposição às suas famílias originais, ela com a mãe e ele com a filha) e a religiosidade do treinador. Não é que o filme explora muito bem essas três características e acrescenta outra que é o fato surpresa do filme (a questão da eutanásia)?

É um trabalho de maturidade impressionante realizado por Clint Eastwood, um filme que evoca personagens e temas dos seus mais diversos filmes (como Honkytonk Man, Os Imperdoáveis e Um Mundo Perfeito por exemplo) para alcançar um patamar impressionante que sua idade e vida proporcionaram. Só nessa idade que ele conseguiria chegar nesta interpretação gloriosa, como cada marca de seu rosto representa muita coisa. Mas, o melhor, é generoso o bastante para dar a Hilary Swank e Morgan Freeman trabalhos magníficos, formando um trio inabalável.



Aquele ginásio mais parece ser o purgatório terrestre, onde as pessoas têm que passar para se livrar de suas existências. E se num primeiro momento achamos que Clint e Morgan é que são os anjos responsáveis veremos depois que apenas Morgan é o espírito iluminado e acolhedor. Hilary e o próprio Clint são visitantes daquele lugar e tendo por lá passado irão em direções que nunca imaginariam. Essa reversão é maravilhosa, quando o que se pensa tratar da boxeadora é na verdade do treinador. Tudo o que vemos da boxeadora é mostrado em pouco tempo, ela é temporária nesta vida, teve que começar tarde, mas em sua breve passagem modificou a vida de quem passou por muito e do qual sabemos quase nada. É no que o treinador foi (quem ele foi?) e no que ele virou (o que ele virou?) que o filme se sustenta. Esse, digamos, recurso é o usado em O Sexto Sentido, quando do menino vemos que o principal é o médico, é das percepções dele após a revelação que vamos parar para pensar. Para a boxeadora a coisa é simples: ela chegou onde queria e quer morrer. Pro treinador a coisa é complexa desde sempre, seja com relação à sua filha, com seu amigo, com sua profissão, com sua religião e agora com o que aprendeu com a jovem boxeadora. Ele baixou a guarda e deixou de se proteger, assim como ela. Seria ela um anjo também? E Morgan? Seria ele mais um observador (lembrar do olho cego dele), um anjo transformador que faz as coisas sutilmente (ele que vai unir a boxeadora com o treinador), que une as pessoas (lembrar para quem ele narrou as coisas)? O treinador, que sempre postergou as coisas, teve que tomar atitude e sair por aí ao final, tentando finalmente se achar nesta existência. O que mais esperamos é que sim, ele achou o sentido das coisas através desse processo doloroso de viver.



posted by RENATO DOHO 10:47 PM
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