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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, março 11, 2005
Bande À Part



Um dos grandes filmes de Jean Luc Godard feito após a realização de O Desprezo, o que causa espanto, já que aqui volta-se ao p&b e ao espírito solto dos primeiros filmes, retomando à temática policial, baseado num pulp americano.

Acho que é uma das narrativas mais "tradicionais" de Godard, mas não impede que haja centenas de referências cinematográficas e culturais, tornando tudo rico. O nível de ligações, referências e símbolos é tanto que nem me atrevo a querer ficar citando tudo, mas destaco: a brincadeira do tiro logo no início que é retomada no final e a citação de Pat Garrett e Billy The Kid (que antes eram amigos), o que a professora escreve no quadro e que tipo de tarefa que dá aos alunos, o letreiro luminoso da nouvelle vague, os gestos dos protagonistas e o movimento do carro que parecem sempre ir para lugar algum, a moça que retoca a maquiagem no espelho do banheiro do bar, as tomadas por trás dentro do carro, os cigarros, o chapéu, as meias...

Há cenas memoráveis como a da aula de inglês com a troca de olhares, a cena do bar com o silêncio, a troca de lugares e a dança (uma das grandes cenas da história do cinema) - essa cena é clara inspiradora da cena de Pulp Fiction, começando pelo papo dos silêncios constrangedores e terminando na dança de Uma e Travolta - o recorde no Louvre e a tentativa de roubo.

Outro destaque é a narração do próprio Godard, começando com a brincadeira de um resumo rápido após algumas cenas para os espectadores que estão chegando agora ao cinema e a recusa de explicar o relacionamento do trio deixando que a imagem fale por si. Essa lembrança da forma do filme é constante, a mais evidente é o corte sem continuidade temporal, com falas e gestos sendo repetidos na mudança de plano (Glauber Rocha em Terra Em Transe usa bastante) e até na cena da dança no uso do som ambiente e da trilha (brilhante).

O trio, dois homens e uma mulher, nos remete de imediato à Jules E Jim de Truffaut (a corrida no Louvre é outra referência explícita, ou melhor dizendo, um diálogo).

E, claro, não dá pra não falar da força da beleza que Anna Karina transmite por uma câmera evidentemente apaixonada (ela era casada com Godard na época).

Enfim, há muito que se falar e perceber do filme, mas vale mais vê-lo e revê-lo, coisa que a TV5 felizmente proporcionou aos seus espectadores.


posted by RENATO DOHO 9:53 AM
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