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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, abril 16, 2005
Reencarnação (Birth)

Filme extremamente interessante realizado por Jonathan Glazer. O tal tema do filme aparece explícito no título nacional e mesmo no filme as primeiras falas estabelecem o que vai ser a história. No final das contas não sei se isso importa pois há planos maravilhosos que acho que mesmo isolados teriam o mesmo efeito em mim, como a morte no inicio (excelente uso de música erudita), a recusa do contraplano quando o garoto entra na sala de jantar, o plano logo a seguir do desmaio do garoto (quando o casal entra no elevador), e o longo take de Nicole Kidman no teatro que para mim poderia continuar até o final do filme que sairia em êxtase (no equilíbrio do uso da duração do plano e também nos olhares de Nicole - caso fosse outra atriz não sei o quão impactante seria para mim - e confesso, quase chorei de emoção por esse plano). Durante esse plano fiquei pensando na Joana D'Arc de Dreyer e em Bergman (Persona)... Nicole, não preciso dizer, está magnífica (e bela, bom ressaltar, por causa do visual diferente). Há toda uma criação de uma atmosfera estranha no ar nas atitudes dos personagens (Anne Heche logo no início), na fotografia (lembrando filmes dos anos 70, Bergman, tudo esmaecido), no uso do som e da música (do som lembra muito Lynch) e nas mudanças de ritmo e tom. O porém que se possa apontar é o caminho tomado no final. Num todo o final escolhido pode ser visto com ok, que conclui bem o filme, mas acho que destroí algumas belas possibilidades como a mais óbvia que seria de não resolver o mistério. Ou então concluindo de uma forma que a idéia original (reencarnação) não fosse descartada, mas utilizada à favor dos personagens (talvez algo altruista de libertação do amor por parte dele). O mais complicado é que o final optado proporciona uma ótima cena que é de Anne Heche desmascarando tudo. O que me desagrada neste final? O personagem de Nicole Kidman se torna patética (isso é interessante num certo sentido, mas...) já que ela é enganada por uma criança, foi enganada pelo falecido marido e se casa com um homem que claramente demonstrou ser imaturo e violento (e pior, com uma criança). Presenciamos o fracasso da existência dela (esse o lado interessante), mas me pareceu cruel demais para um personagem que acabamos nos importando durante a narração (ainda mais diante da aspereza com que todos os outros - mãe, irmã, noivo - tratam o tema de uma possível reencarnação ou outro mistério). Seria aquele desespero final a tomada de consciência dela? Mas aquele final se encaixaria mesmo numa estrutura que não desacreditasse o garoto por completo. A coisa do marido tê-la traído e não a suportar e ela sentindo tanto amor por ele não é explorada a ponto dela tomar conhecimento disso, só o público sabe, fazendo com que ela se rebaixe diante de nós, para que tenhamos um misto de pena e regojizo ("como é idiota"), e isso é algo que não gosto como está ou ficou. Por não deixar nenhuma porta aberta para o mistério (ao menos não notei em toda a parte final algo que indicasse que o desmascaramento não foi o que foi) o filme perde um pouco de seu encanto, mas fica a boa impressão do projeto e da direção.


posted by RENATO DOHO 11:33 PM
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