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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, setembro 23, 2005
Bendito Fruto

Eis um filme difícil de explicar e definir e o engraçado é que é bem simples. O filme é ótimo, mas tem características que não sei quais são ao certo, não que não saiba, mas como houve essa mistura ou feitura para acabar do jeito que está na tela. Pra começar, o filme é de uma ternura incrível, as situações, os personagens, sentimos carinho por tudo apresentado, como se conseguiu isso? Atores? Direção? Roteiro? Como consegue tamanha naturalidade se é feito por atores tão conhecidos? E ainda mais que a paisagem, os cenários e tudo mais são familiares, mas não "realistas" e nem por isso soam falsos! Pra mim ainda é um enigma tudo isso, se descobrisse mais como o filme conseguiu ser assim melhor aprenderia tamanha qualidade. Engraçado pra caramba, o filme tem um elenco fantástico, até o Eduardo Moscovis, que não gosto muito, está muito bem como o galã gay (e sua caracterização está tão boa que só de vê-lo de primeira dá pra perceber que é gay, mesmo evitando a afetação). E disse que além do humor o filme consegue ser emocional, verdadeiro e até ter um lado bem social? Mais complexo do que aparenta o filme é uma delícia.

Duas Vezes Com Helena

Curto filme de Mauro Farias que consegue ótimos resultados adaptando um conto do grande Paulo Emílio Salles Gomes. O uso do back projection é até estranho de início, mas se revela muito bem colocado, quebrando um naturalismo. O trio de atores está muito bem, destacando Christine Fernandes que está maravilhosa na cena do jantar que vai ser a mais importante de todo o filme. E é dela que parte o mote de algo que ao se ter a reviravolta final o espectador se sinta quase que na pele do protagonista (caso seja um homem assistindo), o que torna tudo melhor ainda nas implicações psicológicas e emocionais que o protagonista e o espectador terão. A história se permite discutir coisas bem de cinema, mesmo que não aparente de imediato. O olhar, a narração, a construção de cena. Extras bem interessantes no dvd, incluindo um comentário do professor João Luiz Vieira (por acaso meu ex-professor) que é sempre muito bom. Tem também do elenco, do diretor, do fotógrafo e outros, dando bem mais que 45 minutos. Não lembro de repercussões desse filme, espero que em dvd o filme seja mais visto e descoberto.

Jogo Subterrâneo

A idéia até que é curiosa e há um bom começo, mas quando a personagem de Maria Luisa Mendonça começa a ser desvendada (o lado misterioso dela antes é interessante) tudo fica fraco demais. É aí que o filme perde o pouco de credibilidade que tinha, ficando mais explícito que é apenas um filme cheio de clichês e assim nos distanciamos da ação e dos personagens. Roberto Gervitz se não escreveu bem o roteiro ao menos conseguiu boas coisas no metrô. Outro personagem ruim é da cega feita pela Julia Lemmertz, que vira uma espécie de oráculo do Felipe Camargo e finaliza sua participação com uma revelação péssima. Daniela Escobar nem erra ou acerta (mas fica nua) e a menina que faz sua filha (autista) tem bons momentos. Numa comparação grosseira o filme nos seus piores momentos lembra Nina, talvez pelo visual "cinema paulista anos 80". Mas não é de todo ruim não.

De Passagem

O filme de estréia de Ricardo Elias é muito bom. Vê-se algumas tomadas escolares até, mas outras muito boas e a utilização dos trens paulistanos é ótima. Fora isso o filme passa um senso de real e familiar muito próximo, os dois atores principais são ideais pelas diferenças e também pela amizade evidente. O filme é quase um railroad movie, passado em dois tempos, claramente mostrando uma jornada (ou duas no caso) de um dia que modificou e modificará as pessoas envolvidas (os 2 que fazem a viagem no presente e a terceira pessoa oculta). Nisso o filme pode remeter à vários filmes que seguem essa trajetória, como Conta Comigo. E o fato de ser brasileiro e em São Paulo dá outros importantes contornos ao filme. Particularmente achei bem legal ver dois orientais em destaque no filme, Claudio Yosida no roteiro e Carlos Yamashita na fotografia. Uma cena que até parece um interlúdio onde há uma paquera no trem revela uma graciosa atriz que consegue se fazer notar apenas pelo olhar e deixar lembrança nos espectadores. Há extras no dvd.

Contra Todos

Dá pra destacar a direção de atores que consegue extrair performances impressionantes como as de Silvia Lourenço e Giulio Lopes, dois atores que não conhecia. E também dos mais conhecidos como Leona Cavalli e Ailton Graça. O uso do digital às vezes é bom, às vezes estraga a cena. O que pega mesmo é o roteiro. Quando tudo vai transcorrendo como no cotidiano, tudo bem, mas quando começa a virar uma demonstração de algo, vai ficando cada vez pior até chegar ao ponto do flashback explicativo que além de redundante se mostra apenas um efeito narrativo e não algo para dar substância àquelas pessoas ou àquela situação. Aliás fica parecendo no final que nem há interesse naquela realidade, mas sim uma utilização ou no pior dos casos uma crítica vinda de cima, de como é podre "aquela gente lá", reforçada pelo final que se propõe irônico e cínico. Curioso notar que o filme segue uma tradição hollywoodiana de explicitar a violência, mas ser púdico no sexo (apenas a transa mais pro final que é um pouco explorada, o resto é só (mal) sugerido).

Gaijin – Ame Me Como Sou

É difícil falar do filme de outra forma que não a pessoal e nesse aspecto Gaijin se torna mais do que pode ser para grande parte do público. Tudo me remete à minha família (até na parte dos dekasseguis) em vários aspectos, do presenciar, do ouvir falar, do conhecer, do vivenciar, do amar, do sofrer. Quando um primo diz ter chorado numa cena por tê-lo feito lembrar de nossa avó falecida não tem como ao reconhecer a cena eu não me emocionar também. E nisso o filme de Tizuka Yamazaki consegue passar muito bem. Mas deixando tudo isso de lado dá pra falar da dublagem um pouco inadequada dos atores estrangeiros (em algumas cenas em especial, pois no geral é passável). Não senti, como diziam, uma esquizofrenia ao tentar abordar muitas histórias num só filme, achei que teriam pulos abruptos, mas acompanhei toda a história sem sentir falta de algo (e quanto mais, melhor pra mim). Na sessão que fui apenas eu e mais duas pessoas, uma mulher com sua mãe, ambas japonesas (elas gostaram). É uma pena.

Água Negra (Dark Water)

Fiquei surpreendido ao achar que o filme não é ruim como pintavam (ou queriam) por aí. Walter Salles não demonstra uma mão pesada que tenta imprimir uma marca pessoal evidente e nem um diretor qualquer que faria tudo no automático. Tudo ajuda, a Jennifer Connelly atuando, os coadjuvantes de luxo, o roteiro de Rafael Yglesias (parece até que há mais coisas dele que de Salles no filme), a fotografia, os cenários e até o figurino. Todos os personagens são caracterizados como solitários ou sozinhos, mesmo que não sejam de verdade, nunca vemos suas outras relações pessoais (em todos os níveis, até da garotinha) dando a sensação de isolamento ao filme. O final é bom e creio que fiel ao original japonês; um pouco desolador para uma produção americana.


posted by RENATO DOHO 2:07 AM
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