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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

segunda-feira, outubro 10, 2005
O Demônio E Daniel Johnston (The Devil And Daniel Johnston)



Excelente documentário do fascinante cantor, compositor, desenhista e gênio Daniel Johnston. O diretor Jeff Feuerzeig conseguiu retratar esse lendário, mas pouco conhecido (ainda), artista de forma muito criativa, honesta e cativante. Ajuda o fato de haver a disponibilidade de muita coisa em aúdio e vídeo que o próprio Daniel gravou desde cedo. Só assim podemos ouvir as reclamações da mãe ou vermos o grande amor da vida dele. Fora todo o lado da pesquisa (outras fontes de vídeo, fotos, etcs) Jeff em alguns momentos reencena episódios contados dando maior impacto sem deixar a coisa falsa (a história da velhinha é mostrada com uma câmera subjetiva, por exemplo, dando muito mais força no relato). Juntando tudo isso numa montagem dinâmica e ótimo uso do som fazem do filme mais do que um mero retrato de um artista, mas sim em uma obra em si, cheia de méritos até quase que independente do personagem principal. Mas como estamos falando de Johnston fica difícil separar uma coisa da outra e admitir que essa personalidade distinta e original não dá uma força tremenda ao filme. Acompanhamos toda infância e adolescência relativamente normais até o primeiro surto de loucura. A partir daí adentramos um mundo muito particular que mistura depressão, arte e religião (o título do filme não é à toa). O legal é que o documentário estabelece toda força do artista Johnston bem antes de tentar se validar por opiniões mais famosas (como Kurt Cobain), fica claro nos depoimentos de aparentes desconhecidos que o brilhantismo de Johnston é evidente muito antes de qualquer mídia reconhecê-lo. Mesmo que depois citem Brian Wilson, Matt Groening apareça e tal não é neles que o filme tenta sustentar sua opinião, mas sim no que o próprio Daniel faz e mostra (seja canções ou desenhos). E olha que essa era uma via mais fácil devido à quantidade de artistas reconhecidos que admiram Johnston. Ficamos envolvidos em tudo que diz respeito à ele, sua arte apresentada da forma mais crua e honesta possível (que muita gente pode primeiramente rejeitar) diante de uma condição psicológica e existencial dificílima. Sentimos tanto o seu drama quanto o drama dos seus queridos pais, além de amigos e seu produtor one-of-a-kind. E uma coisa não é separada da outra, quanto mais sabemos de sua vida mais suas letras se mostram brutalmente sinceras e mais sentimos emoção diante disso, afastando o sentimento de ridículo que possa surgir inicialmente. A arte na mais pura forma. Há tantos fatos incríveis que somente vendo o filme para apreciar (ele trabalhando no McDonald's, sua escapada em Nova York, o pouso forçado do avião, suas internações, seus primeiros shows, etcs e etcs). Há momentos tocantes, mas há muito humor também, não se mostra ou se explora Johnston como um coitado, mas um ser complexo, com muitas dificuldades ainda - o que tira aquele clichê de "e no final tudo acabou bem" desses tipos de filme. Particularmente me emocionei quando começou a tocar uma canção que eu nem lembrava mais que era dele e que conhecia há anos através de uma gravação do Wilco. No filme ouvimos a versão original, mas não teve como não lembrar da do Wilco que é linda e misturar o que já sentia com a canção com o que via diante de mim, com toda história do Johnston por trás, aí não tinha como não chorar. Enfim, um documentário imperdível!

Aproveitando fica o agradecimento ao
André ZP que é super fã de Daniel Johnston (que deve ter bem mais coisas para contar) e que me avisou sobre e recomendou o documentário.



posted by RENATO DOHO 2:54 AM
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