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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, outubro 19, 2005
Resumada

Uma geral no que vi:

Casa Vazia (Bin Jip)

Pra quem odiou o anterior (Primavera, Verão...) até que esse é bem melhor, mas continua com algumas coisas irritantes, meio didáticas, principalmente quando no final surge uma frase pra reforçar o óbvio e soa como o budismo light que apresentou antes. A partir da prisão o filme muda um pouco de tom, se tornando mais fantástico. No geral gostei.

2046 (Idem)

Excelente continuação de Amor À Flor Da Pele, só fiquei desapontado com a minúscula participação de Maggie Cheung, mas ter Zhang Ziyi e Faye Wong compensa, e muito! Toda a mistura de tempos e o lado futurista é mais fluente do que se esperaria da forma caótica que Kar Wai trabalha, revelando mais uma vez seu talento onde tudo parece planejado e sabemos que não é em grande parte. O personagem de Tony Leung se aprofunda mais mesmo que o tom (ou o sentido, ou o rumo) do personagem fique bem parecido ao anterior, como se numa espécie de eterno retorno ou uma danação. Tão bom rever Faye e Zhang, bom, como não dizer? Maravilhosa!

Eros (Idem)

Kar Wai faz o melhor episódio, seguindo um pouco a contenção e a repressão dos desejos. Gong Li está muito bem. O do Antonioni tem momentos interessantes, mas parece se perder no meio, vale mais como ele coloca os atores em quadro e no cenário ou como percebe um local, além da nudez das duas atrizes. Soderbergh faz o mais irônico e menos ligado ao tema que liga os curtas. Meio bobo e metaliguistico pois está num tom sério (quando está no entertainment fica muito melhor).

Senhor Vingança (Boksuneun Naui Geot)
Lady Vingança (Chinjeolhan Geumjassi)


Apesar de serem bons filmes não deixa de ser decepcionante constatar que o cinema que Chan-Wook Park realiza é de certa forma desprezível. A mistura da violência com o humor parece querer tirar qualquer humanização dos seus personagens, virando marionetes da trama e fazendo do público marionete para seus jogos de sadismo. Em Senhor nenhum dos dois protagonistas é bem desenvolvido e isso faz com que se perca qualquer interesse no que aconteça com um ou outro. Quando o pai tortura a garota com choques a atenção vai mais no humor dele comer no quarto do que qualquer coisa que tenha acontecido com ela ou ele (em Lady vai ter algo parecido, só que ampliado). Há quem goste (Tarantino tem seus fãs - a cena da orelha sendo decepada criou seguidores). Toda a parte final de Senhor não soa nem trágica nem cômica ou mesmo tragicômica, mas sim uma piada de mau gosto. Há um trabalho muito interessante de som em Senhor, lembrando Lynch (mais adiante Lynch reaparece, mas na sua forma caricatural, jogando contra o que era positivo antes). Em Lady há uma melhora no que o filme tem a dizer, de certa forma a protagonista segue numa busca em parte similar ao de Laura Palmer. O trabalho com os tempos é muito mais bem desenvolvido e o humor em boa parte está nos lugares certos. Tanto o drama dela, das crianças e do professor são levados mais à sério. Até que chegamos na vingança e aí começa o show de humor negro (ou comédia hilária pela reação do público) que eu realmente não acho graça. O recurso vem da Agatha Christie (Expresso Oriente) só que com humor. Aí o filme lembra Dogville e há uma dose possível de ambiguidade que pode salvar o filme (como eu também acho ambíguo o final de Dogville, mesmo que a maioria perceba e aprecie pelo lado mais óbvio). A cena final seria redentora ou falsamente redentora? A se pensar. Nesta trilogia Old Boy se destaca pela história bem mais relevante, onde o trágico não é banalizado, mas sentido e mostrado.

Doutores Da Alegria

Não tem como criticar o documentário de cara, o projeto social é excelente e mostrar isso nas telas já seria o bastante. Só que pode-se depois de se emocionar, rir e chorar perceber que há uns excessos e umas posições questionáveis. Tentar o convencimento teórico e intelectual do palhaço para o público no começo pode soar como uma contextualização, mas depois fica parecendo que a justificação é maior do que o necessário, perdesse tempo com isso quando o ponto principal do documentário é a ação dos palhaços com as crianças, é isso que fez do projeto importante, é isso a relevância da coisa e não a construção filosófica do ser palhaço. Ao invés de dar mais dados ou depoimentos do impacto da recuperação nos pacientes há um discurso da função subversiva do palhaço, do artista na sociedade, etcs. É como se a imagem que os realizadores têm do que o público imagina do palhaço é tão ruim que foi necessária uma base teórica e histórica para mostrar a sua importância (às vezes muitas minorias caem nesse erro, se auto justificando sempre). Os depoimentos são tão melhores quando os palhaços falam de situações pessoais (como a do pai do criador do projeto ou seu primeiro dia como palhaço no hospital) do que quando vêm com discursos sobre o ser palhaço. Algumas cenas armadas para as câmeras também são desnecessárias. Ficou faltando mais isso, justamente o que o projeto tem de melhor, o pessoal, o lado humano, quem são os palhaços, o que os tocou, o que os modificou como seres humanos e até artistas (sem discursos). Mesmo assim o registro das atividades (de longa data) é ótimo.

Anjo De Vidro (Noel)

Um clássico filme de natal, com todos os bons sentimentos e histórias de vida. Daqueles que no futuro poderão ser exibidos pelas tvs na semana natalina. E isso não é algo negativo, o filme cumpre bem essa meta (o modelo é A Felicidade Não Se Compra). Os personagens são interessantes, o do Alan Arkin é esquisito inicialmente e a da Susan Sarandon (no ponto certo) é triste, mas esses e mais o casal Penelope Cruz (particularmente bonita aqui) e Paul Walker (boa atuação dele) vão se cruzar na narrativa. Há uma participação especial não creditada que proporcionará o momento de maior emoção do filme (se é óbvio ou não eu não tinha me tocado e fiquei emocionado).


posted by RENATO DOHO 3:50 AM
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