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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, novembro 22, 2005
Last Days



Gus Van Sant parece fechar uma trilogia iniciada com Gerry: baseado em histórias reais os três filmes não se fixaram nesta realidade, apenas serviram de inspiração; então Elefante não é exatamente sobre Columbine assim como Last Days não é sobre Kurt Cobain, mesmo que tudo leve a crer que sim. É um recurso curioso que instiga o público por ter seu interesse despertado pelo tema conhecido e o frusta (em certa medida) por não oferecer o que se esperava. Quem for procurando Kurt e seus últimos dias no filme realmente vai se sentir enganado de certa maneira. Já os que apreciaram essa nova abordagem de Van Sant desde Gerry vão ter motivos de sobra para elogios. Situo o filme entre Gerry e Elefante, sendo Gerry o meu favorito. Apesar do seu radicalismo, Last Days tem uma trajetória relativamente simples e previsível, sim, são os últimos dias de alguém assim como era esperado em Elefante o massacre escolar, diferentes de Gerry onde o destino final era impresivível (já que a questão da perda em vários sentidos é abordada). Mistura-se o que já vimos anteriormente em um ou outro filme (ou em ambos às vezes): a câmera acompanhando por trás alguém caminhando, os longos planos, a narrativa semi-circular, o uso extremamente importante do som, o distanciamento do que se mostra, etcs. A abordagem do protagonista (Michael Pitt / Blake / Kurt) é onde o filme se destaca dos outros, fica claro que vemos ali um não-ser (Pitt está ótimo nesta caracterização corpórea do personagem), que vaga pela casa e pelo campo, grunhindo coisas e não temos nenhum grande insight do que realmente se passa com ele (o tal do distanciamento), nem através de suas ações (preparando comida, acariciando um gato, caindo pelos cantos) a não ser (e isso é muito importante) através da música. Nas duas cenas "musicais" o filme se abre e deixa com que entremos no sentimento daquele indivíduo. São as duas melhores cenas do filme, filmadas de longe e capazes de emocionar. No resto tudo parece ser vago, até nas poucas conversas que ouvimos aqui e ali, que são banais num sentido e significativas em outro (a do vendedor das páginas amarelas nos remete à indústria musical e a discussão sobre o sucesso). Pequena participação de Kim Gordon fazendo a rara pessoa que faz algum sentido no meio daquelas pessoas "perdidas". Asia Argento é quase uma figuração, achei que seria melhor explorada. Muitas das coisas que podem ser tiradas do filme, paradoxalmente, se baseiam em Kurt Cobain. Entendemos mais certas ações e certos temas aqui e ali que sem esse fantasma da pessoal real que foi Cobain não ficariam tão significativas assim (isso talvez se repita em Elefante ao trabalhar com o fato do público saber que se fala em Columbine). Seria isso mais um motivo para minha maior apreciação de Gerry que não necessita disso (e por isso é entre os três o menos conhecido)?

Parece que depois dessa trilogia Van Sant descarregou o que tinha que descarregar e está com um projeto mais "convencional" para breve, onde nem mesmo escreveu o roteiro.


posted by RENATO DOHO 4:58 PM
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