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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Munique (Munich)



É, só agora que vi. Spielberg problematiza ainda mais toda relação pai e mãe que vinha surgindo com maior força desde AI (quase todo filme dele tem essa questão, mas era deixado mais nas entrelinhas como em Jurassic Park) quando tínhamos a relação do garoto com sua mãe adotiva e seu pai-criador passando por Minority Report (Tom Cruise com o “pai” Max Von Sydow, com o filho e a cognitiva), Prenda-Me Se For Capaz (os múltiplos pais de DiCaprio e a distante mãe), O Terminal (já antecipando Munique na relação pai e pátria) e Guerra Dos Mundos (o pai Cruise e o pai Robbins). Agora é explícita a ligação com a pátria mãe (nação / Golda Meier) além das diversas facetas da paternidade, seja do protagonista com a sombra de seu pai e sua recém condição de pai, quanto do encarregado (Geoffrey Rush / pai estado) e do mafioso francês (Michael Lonsdale). Fora a presença da mãe e das diversas referências ao papel de pai (de Papa Was A Rolling Stone à filha de uma das vítimas com outro "papa"). Nestas relações não há algo de estável e reconfortador, mas sim de desequilíbrio, de traições e lealdades. Também há a questão de adoção, do estabelecimento de novas relações fraternais que Spielberg conhece muito bem diante de seus vários filhos adotivos. Toda a trajetória de Avner (Eric Bana) é fascinante na questão do duro amadurecimento diante do seu papel de filho da pátria e pai de verdade. E da perda dessas referências e estabelecimento com outras (sua filiação com o francês, sua mudança para a América, seu medo do estado israelense). É como se Spielberg colocasse o atentado de Munique lado a lado com o assassinato de JFK, a perda da inocência (que inocência?) e o crescimento da paranóia, em toda tentativa vã da visão total (Minority / Guerra Dos Mundos). Claro que há mais nisso ainda mais quando lidamos com grupos (a irmandade) sendo o encontro com outro grupo na safe house o momento alto dessa discussão. E no extraordinário atentado no hotel temos lá a luz que se apaga após todo o temor de Avner diante do que isso significa (de muitas outras maneiras) e a quebra dos muros que o faz se ligar novamente a um casal onde a mulher não vê o que não pode ser explicado. As missões que no início eram incertas, cheias de dúvidas (o que fazer com a primeira vítima quando cara a cara?) começam gradualmente a serem mais calculadas e frias como no assassinato da espiã. É a perda da humanidade caminhando passo a passo e tentando ser recuperada das mais diversas formas pelo grupo causando na maioria das vezes a morte (a busca pelo sexo, a busca pela precisão, a busca pela tranquilidade). De certa forma Avner se encontra ao final como Jim de Império Do Sol, anestesiado, incerto do que passou e do que poderá passar. E lá ao fundo as torres gêmeas marcam o passado e o futuro.


posted by RENATO DOHO 1:00 AM
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