RD - B Side
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, julho 30, 2006
Memórias De Uma Gueixa (Memoirs Of A Geisha)

Eis um projeto com grande possibilidade de erros que acabou sendo um ótimo acerto. Para começar temos um livro de um americano falando de um assunto extremamente nipônico, as gueixas. Um filme americano, filmado na Califórnia e falado em inglês. Finalizando, temos uma mistura de raças, desde o diretor americano passando por atrizes chinesas, atores japoneses, diretor de fotografia australiano, montador italiano, violoncelista chinês nascido na França e até um violinista palestino. E disto surge a magia do cinema. A questão da língua foi a maior barreira inicial, mas após se acostumar acredita-se que o filme se passa no Japão e que aqueles são personagens japoneses. Um trabalho coletivo de primeira com a excelente fotografia de Dion Beebe (Colateral, Miami Vice) e a ótima montagem de Pietro Scalia dentre vários outros da equipe técnica. Muito antes de ver o filme já tinha adorado a trilha sonora de John Williams que conta com presenças brilhantes de Yo-Yo Ma e Itzhak Perlman. Vale destacar quase todo o elenco pelo trabalho impressionante onde nenhum papel parece figurativo e todos conseguem marcar presença, serem significativos e convincentes: Zhang Ziyi (maravilhosa), Michelle Yeoh (a sutileza em pessoa), Gong Li (excelente), Ken Watanabe (carismático e driblando uma figura quase idealizada), Kôji Yakusho (grande ator), Suzuka Ohgo (a jovem Chiyo, linda), Youki Kudoh (a "abóbora"), Kaori Momoi (a "mãe" de todas), Cary-Hiroyuki Tagawa (o lorde, sempre com um ar de sedutor), Ted Levine (pequena mas boa participação) e Zoe Weizenbaum (a pequena "abóbora"). E Rob Marshall conduziu todos da melhor maneira possível dentro de seus limites; se não tenta chamar para si a grandeza do projeto, se impondo com um estilo, ele, como condiz ao filme, serve ao projeto, evitando que fique uma vitrine vazia de visuais e que perca o controle do tom geral ao não dar mais dramaticidade ao final que continua sutil e contido. E seu lado coreógrafo mais uma vez serve muito bem ao filme nas cenas de dança e na montagem do treinamento de uma gueixa, sem se auto deslumbrar. A figura da gueixa é retrata de forma digna, focando muito mais na sua arte do que no papel mais tradicionalmente ligado à ela que é de uma garota de programa mais sofisticada. Há uma ligação mais forte na idéia de que as gueixas foram as famosas modelos de hoje em dia. A disputa que se acompanha e a inteligência das ações valem mais que qualquer apelo de subjugação ou sexual. Exemplar como a protagonista consegue a admiração masculina, por suas habilidades (dança) e inteligência (conversa). As elipses temporais são bem realizadas e a mudança do cenário social é bem posto com a guerra e a presença americana. Como numa visão de fora (como não poderia deixar de ser) nota-se um interesse pela cultura e uma vontade de explicar costumes que não teriam muito lugar num filme originalmente japonês (a seqüência do sumô é muito mais para o público ocidental). O tom respeitoso pode parecer até demais (não veremos qualquer maior problema gerado entre os japoneses durante a trama), mas é algo esperado e é melhor assim que o oposto. Várias seqüências para se lembrar e admirar. Como Chicago boa parte não gostou e eu sim (mesmo não sendo fã de musicais), Memórias De Uma Gueixa segue o mesmo caminho. Bom acrescentar que até meus pais, notórios pelo cochilar durante filmes, ficaram atentos por toda a duração, fato raro. Creio que muito mais pessoas da minha família apreciarão o filme (como aconteceu com O Último Samurai, onde muito mais gente com ascendência nipônica gostou do que o público em geral). O dvd aqui saiu simples, mas lá fora é duplo. Perdeu-se os extras mais históricos sobre o papel da gueixa, do sumô e da cozinha tradicional. O que mais senti falta foram dois extras: Sayuri's Other Journey falando de toda jornada do livro às telas com Arthur Golden e os realizadores, e The Road To Japan onde a equipe vai para o Japão visitar lugares que aparecem no livro. Mas aqui os extras somam 50 minutos e vemos a construção de toda a cidade na Califórnia (eu que não ligo muito para isso fiquei impressionado), o treinamento do elenco para o filme (Gong Li dá entrevista no idioma dela, como até em Miami Vice isso acontece, parece que ela não quer ou precisa falar em inglês mais do que o necessário), preparação de uma gueixa (roupa, maquiagem, etcs) e a música de John Williams.

Originalmente Steven Spielberg dirigiria o filme, só que a idéia seria filmar na língua original, no Japão e com orçamento menor que 10 milhões de dólares. O estúdio não aceitou a idéia. Seria outro filme, com certeza.


posted by RENATO DOHO 12:05 AM
. . .
Comments:


. . .