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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, setembro 27, 2006
Tell Them Who You Are



O filho do grande diretor de fotografia, Haskell Wexler, fez este documentário não só para falar da carreira do pai, mas sim tentar entendê-lo como pessoa e pai. Então as duas coisas vão se misturando, às vezes falando dos filmes que fez, outras sobre sua vida pessoal e política (que sempre foi forte). A personalidade de Haskell já é marcante pelas posições fortes e a dificuldade de trabalhar com outras pessoas (muitas vezes ele tentava dirigir os filmes que fotografava), juntando com a contraposição da personalidade do filho (afável e mais conservador do que o pai gostaria que ele fosse) ressalta-se ainda mais as características gritantes. Mesmo que a parte pessoal soe amadora na realização (câmera meio incerta, planos aparentemente mal planejados) a parte "profissional" é correta, dando uma sensação esquizofrênica. Entre os entrevistados aparecem personalidades como George Lucas, Michael Douglas, Jane Fonda, John Sayles, Julia Roberts, Martin Sheen, Milos Forman, Conrad L. Hall e Elia Kazan, entre outros. Um Estranho No Ninho, Quem Tem Medo De Virginia Wolf e America America são alguns dos filmes que fotografou. Vemos a grande amizade com Conrad que foi quase um segundo pai para Mark, filho de Haskell, já que ambos eram mais parecidos no jeito de ser do que Mark com Haskell. Um dos poucos filmes que Haskell dirigiu é o famoso Medium Cool que devo ver em breve, pena que não dirigiu mais coisas, mas muito se deve à sua personalidade. Fez mais documentários (tem até um sobre o Brasil feito em 1971: Brazil - A Report On Torture) onde foi um dos precursores do cinema direto (The Bus).

Fascinante estudo de indivíduo, profissional e pessoal, pai e marido, ativista político e mulherengo. Menos pela forma como Mark monta as coisas, mas mais pelo brilho pessoal de Haskell (suas brigas com Mark são ótimas). Há um momento dramático impossível de conter as lágrimas quando Haskell visita a ex-esposa, mãe de Mark, que sofre de Alzheimer. Uma vida inteira transcorre naquele momento, o que viveram, o que deixaram de viver, o que desfrutaram e o que estragaram. Emocional para os três ali e Mark gravando tudo com a câmera.

E o melhor é que não é um documentário de alguém que morreu, a trajetória pessoal e profissional de Haskell continua aos 80 anos, ele acabou de dirigir um documentário, Who Needs Sleep?, sobre a combinação mortal de longas horas de trabalho e pouco sono com várias personalidades (artistas, cineastas, diretores de fotografia, médicos) dando depoimentos, o que era um trabalho que ele já estava começando a fazer durante o filme do filho quando entrou na campanha por redução da jornada de trabalho das equipes de cinema (Julia Roberts foi uma das primeiras a dar entrevista para Haskell dentro do documentário do filho) por ver no dia a dia vários profissionais morrendo por causa disso, seja por doenças que vão desenvolvendo ou mesmo acidentes por falta de sono após excessivas horas no set de filmagem. É mais uma vez Haskell exercendo seu forte lado político.


posted by RENATO DOHO 5:08 PM
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