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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, setembro 18, 2007
O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum)

Fecha muito bem a trilogia desse moderno personagem que se mostrou um dos melhores do gênero. Essa terceira parte é tão enxuta e bem realizada que dá pra se pensar se não seria ótimo caso fosse o único filme da série (não desmerecendo os outros 2). Tudo o que se pode inferir sobre o passado é reprisado rapidamente e tantas das coisas desnecessárias são deixadas de lado. Será que uma pessoa vendo Bourne pela primeira vez a partir deste terceiro episódio não entenderia tudo muito bem? Eu acho que sim. Fiquei pensando no que o filme acerta e ainda não sei explicar bem, pois há muitos pontos em comum com M:I III e tudo o que dá certo em um não deu certo no outro. Pensei nos coadjuvantes de peso, ótimos atores dando sustentação dramática, os dois filmes têm isso. Nas diversas cenas de ação, também os dois filmes têm (com ação mais realista em Ultimato). Nas diversas locações, idem de novo. No roteiro... aí talvez Ultimato ganhe pontos, mas não muito, a história é básica e simples, bem compreensível e já vista. Na direção? Uma coisa que notei é que Paul Greengrass continua com sua câmera tremida (o único porém do filme, em vários momentos fixei num ponto pra não ter dor de cabeça ou algo pior) enquanto J.J. Abrams filmou tudo de forma clássica, a câmera em tripés, dollys, steadycams, dando uma estabilidade nos planos, o que até gosto mais, só que um passa emoção e excitação e o outro não. Não acho que seja a forma de filmar, Brian De Palma fez o mesmo (bem melhor, é claro) no primeiro M:I. O protagonista? Nesse ponto Bourne se mostra muito mais expert do que Hunt, mais experiente, mais envolvido na ação, com mais garra, você percebe uma habilidade de anos de treinamento que em Hunt parece mais um engravatado que teve que assumir a ação em campo, ou pior, um playboy aventureiro (que escala montanhas, como no segundo filme) e não um guerrilheiro urbano. Mesmo assim não sei porque tendo várias coisas em comum os dois filmes são tão diferentes. Só sei que o filme é ótimo. Adorei desde o segundo a presença da Joan Allen como contraponto, ela transmite inteligência capaz de se equiparar à Bourne. E os outros aparecendo novamente ou pela primeira vez só ajudam ainda mais na qualidade do projeto. Diversas cenas incríveis que realmente empolgam e que causam excitação não só pela ação em si, mas a ação de inteligência das operações e movimentos, como um thriller de espionagem exemplar tem que ser e talvez aí esteja o segredo de Ultimato ao se destacar com relação a M:I III, não há toda essa inteligência operacional nas ações de Hunt.

Primer

Esse pequeno filme de estréia de Shane Carruth foi chamado na época (3 anos atrás) de um novo PI. Por ser extremamente complicado e barato. Só fui vê-lo agora, e conforme ia vendo achei tudo tão simples e compreensível que começava a duvidar do que falavam, mas realmente, a idéia é engenhosa ao ponto de no final realmente acharmos tudo bem complicado, mesmo que tenhamos entendido tudo de primeira (superficialmente). Um dos motivos para isso são as elipses da narrativa, muita coisa não é mostrada ou dita, como a função máquina que os personagens constroem na garagem de casa. O diretor faz com que vejamos um momento de uma situação, mas sem explicá-la, como se realmente caíssemos direto naquele lugar e víssemos e ouvíssemos aquele instante somente e dali imaginarmos o que aconteceu antes e o que acontecerá depois, pois iremos para outro ponto da narrativa. Só que isso ele faz de uma forma tão sutil que soa como algo linear e que aparentemente não estamos perdendo nada. Isso fica ainda mais engenhoso quando há o paralelo disso com o que o filme propõe. Vamos seguindo a história 1 quase que linearmente, só que e a 2, a 3, a 4 e a 5 que interferem muito no que a 1 está contando? Temos uma vaga noção do que ocorre nessas outras histórias e vemos bastante os que elas causam na principal. Por isso acabamos o filme e tentamos traçar as outras histórias a partir das pistas da história principal. Complicado? É, um pouco. Christopher Nolan fez um pouquinho disso em O Grande Truque, só que bem mais simples e provável que influencidado por esse filme. Quem quiser se aprofundar na engenharia da coisa tem no filme uma mina de ouro, por isso seu status de cult. Quem não tem esse lado geek pode curtir o filme em sua superfície, sendo uma ótima estréia cinematográfica, barata, talentosa e imaginativa. Pena que até agora Shane Carruth não fez mais outro filme.

Following

Por coincidência, ou não, vi no mesmo dia o primeiro filme de Christopher Nolan. Ambos são filmes curtos. Seria extremamente interessante se o primeiro dele tivesse sido Primer, mas ele começou de forma modesta, com uma história que lembra um pouco algo de David Mamet. Feito em p&b e também de forma barata a idéia inicial é bem instigante, um aspirante a escritor começa a seguir as pessoas na rua e acaba se envolvendo com um ladrão e uma mulher, cujo apartamento ele invadiu antes junto com o recém amigo ladrão. Quem conhece Mamet ou outros filmes semelhantes já mata a charada no meio e o uso que Nolan faz de jogar com o tempo, embaralhando a ordem das coisas, não é lá confuso ou interessante, e às vezes é óbvio demais. Como estréia tem seu interesse, mas a conclusão deveria ser outra devido a previsibilidade da história, que além de ser como se espera fica com cara de conto moral. Vale ver também o primeiro curta dele,
Doodlebug, que se relaciona com Following e os posteriores filmes que viria a fazer.

posted by RENATO DOHO 8:01 AM
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