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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, maio 23, 2008
Indiana Jones E O Reino Da Caveira De Cristal (Indiana Jones And The Kingdom Of The Crystal Skull)



Um dos meus maiores receios com a volta do famoso personagem era a possibilidade de acontecer uma atualização que destoasse da trilogia original e acabasse como uma sombra (mesmo que nova) perante à memória dos outros três. Ocorreu um pouco disso na versão atualizada de E.T. que, ainda bem, saiu também numa edição especial que continha o filme como era na época do lançamento e em outros casos fora da filmografia de Steven Spielberg. Isso não ocorre neste novo filme e apenas pelo fato de estar em pé de igualdade com os outros três filmes já faz com que a avaliação comece de ótimo para cima, tudo o mais é lucro, mesmo com suas eventuais falhas (que também existiam nos outros). Minha experiência com os outros filmes difere um pouco da maioria. Meu primeiro contato via cinema foi com O Templo Da Perdição e é esse, talvez, o filme que mais vi na vida, por isso é o que tenho mais carinho, mesmo que seja renegado pelos fãs e até pelo Spielberg. Caçadores Da Arca Perdida fica em desvantagem pois A Última Cruzada também vi no cinema e sua trama com mais aspectos pessoais conquistam.

A impressão inicial do novo filme (como vi dezenas e dezenas de vezes a trilogia, só com constantes revisões prazeirosas desse a coisa começa a ficar justa) é que Spielberg, Lucas e os roteiristas pegaram elementos dos três filmes e juntaram num só, acrescentando outras referências do mesmo universo como O Jovem Indiana Jones, Contatos Imediatos Do Terceiro Grau, Taken, A.I., Jurassic Park, etcs. Fiquei impressionado por achar que estava há poucos anos depois de 1989, o mesmo estilo, o mesmo visual (grande trabalho de Janusz Kaminski por emular a fotografia de Douglas Slocombe), as mesmas tiradas, o mesmo clima e diversos outros elementos (grandes e pequenos) que reduziram drasticamente os quase 20 anos de diferença entre o último filme e este. Mesmo a direção do Spielberg tenta não estar contaminada com o que fez nesse tempo, nem a idade de Harrison Ford em momento algum pesou (como notava claramente em filmes recentes dele).

Logo no início fica claro o modo como Spielberg marca as cenas, juntando planos num só, fazendo o corte na câmera, me senti em casa em instantes. Spielberg consegue me desarmar como poucos, me senti criança novamente soltando risadas livremente, e empolgado nas cenas de ação, mas não como geralmente ocorre, algo que envolva adrenalina com tensão, mas sim uma genuína empolgação de aventura lúdica. Sentia falta dessas cenas de ação, como dizer, bem filmadas, onde as ações fazem um sentido e são mostradas claramente, então uma movimentação moto-carro-moto tem seu tempo assim como a do vai e vem da caveira de cristal por entre os carros na floresta.

Dentre as falhas do filme está a complexidade da simplicidade do roteiro, a história é simples, mas em alguns momentos sua explicação mais complica do que simplifica; também a má utilização de Ray Winstone que nunca é bem caracterizado e por isso suas constantes viradas soam falsas e algumas reações não têm sentido (inclusive sua fala final); toda a trama não conseguiu se ligar com outra coisa senão a própria trama, enfraquecendo-a - no primeiro havia algo histórico, no segundo uma comunidade e no terceiro a ligação pai e filho - neste a trama, sem querer ou não, se liga na vilã e em suas ambições e questionamentos e não em algum dos protagonistas ou algum lugar específico; e o que são aquelas piadas com esquilos no começo do filme (aparecem três vezes)? Fiquei sem entender.

Shia LaBeouf foi uma boa adição e adorei a piada final dele com o chapéu. A vilã feita pela Cate Blanchett aparentemente tem um defeito que vi como qualidade: ela não chega a ser ameaçadora (mas nos outros apenas Mola Ram realmente era um antagonista de peso), mas cria-se uma simpatia por ela (a cena dela pendurada e das formigas tentando subir é um exemplo de como há até uma torcida para que não seja pêga e sua reação é até admirada quando esmaga a formiga que subiu). Nisso ela se aproxima bastante de um perfil de vilã de desenho animado, onde acabamos nos divertindo com suas atitudes, mais do que criando antipatia e raiva.

Ao não deixar com que esse filme tenha um tom de fechamento (como A Última Cruzada), mas sim de começo de uma nova trilogia, perde-se num clímax mais emocional, mas ganha-se na expectativa de novas aventuras. Que venham Júnior e Henry Jones III!


posted by RENATO DOHO 12:15 AM
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