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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, dezembro 17, 2008
Justiça Sem Limites (Boston Legal) 2004 – 2008



Mais uma série do David E. Kelley que termina. Spin off de O Desafio (The Practice) a série era uma versão mais cômica, se aproximando de Ally McBeal, sobre os assuntos da lei através de casos e advogados. A força maior no começo era Alan Shore em desempenho brilhante de James Spader, premiado diversas vezes, mas é com o estabelecimento da dupla com Denny Crane (William Shatner) que se forma uma das mais memoráveis duplas da história da televisão mundial. É, com certeza, a relação homem-homem, sem conotações sexuais, mais forte, emocional, amorosa e íntima já mostrada. Sem usar o subterfúgio da amizade o que há entre eles é amor puro que ultrapassa qualquer categorização (amigos, amantes, pai & filho, irmandade, etcs). E ao final do seriado é a coisa mais marcante que conseguiu realizar, a que a distigue.

Para fãs dos seriados do Kelley já é costume não esperar que o elenco seja fixo e que os finais sejam um pouco melancólicos. Há muitas mudanças nos elencos de seus seriados, sem muitas explicações para o sumiço de certos coadjuvantes e também há a tendência de Kelley não participar das temporadas finais de seus seriados, com exceções e Boston Legal foi uma delas, Kelley não largou a série em nenhuma temporada e escreveu 80% dos episódios. Também é característico de Kelley acrescentar personagens recorrentes com características inusitadas que podem irritar caso não caiam na simpatia de quem vê. Então ter uma velhinha assassina e pentelha ou um negro gordo que se traveste ou uma bonita advogada anã ou um velho juíz virgem ou um advogado com asperger que se relaciona com uma boneca inflável ou um advogado caipira com bronzeado artificial não é algo fora do comum. E todos eles, com o tempo, passam de grotescas caricaturas para adoráveis personagens, uma tática de Kelley para que o espectador aceite mais as diferenças, por mais exageradas que pareçam à primeira vista.

Mais do que em outros seriados que criou Kelley usou Boston Legal como espelho dos acontecimentos atuais, datando mesmo os episódios para serem relevantes no contexto em que eram exibidos. Qualquer fato político já era tema de algum caso e se a pessoa não estivesse por dentro dos acontecimentos poderia não usufruir plenamente a reflexão crítica gerada. A eleição de Obama teve até um episódio exibido um dia antes das eleições totalmente partidário onde até o ultraconservador Denny Crane, republicano de carterinha, votou em Obama.

Como acontece nos seriados de Kelley o que mais interessa são os debates que cada caso gera, nos mais diversos tópicos passando por política, religião, mídia, comércio, indústria farmacêutica, lobbys, sexualidade, justiça, economia, etcs. Sempre pelos ângulos mais inusitados e sempre oferecendo um confronto de idéias e não panfletagem. Nisso o personagem de Denny era exemplar, sua visão republicana era encarada com simpatia diante do liberalismo dos seus colegas de firma.

Outra coisa notável no seriado que o diferencia de outras produções de Kelley é a total falta de pudores em quebrar a quarta parede. Há uma imensa lista de cenas em que o seriado fala de si mesmo, tirando sarro do próprio meio e o deixando mais anárquico ainda. E conseguia isso sem deixar o seriado parecer falso, pois tão logo algo sério era debatido sentia-se o peso do assunto.

Uma pena que na sua última temporada as atrizes mais interessantes já não faziam parte do elenco (como Lake Bell, Julie Bowen, Rhona Mitra, Monica Potter, Saffron Burrows, Constance Zimmer, Marisa Coughlan e Parker Posey). Só havia a Tara Summers (Katie). Por outro lado o próprio seriado chegou a comentar num dos episódios que era um dos raros no ar em que os principais personagens eram velhos, com quase nenhum apelo para a dita audiência televisiva. Nisso a entrada de Candice Bergen, logo na metade da primeira temporada, foi de grande importância. Até os personagens recorrentes eram velhos (os juízes, Betty White).

Não é uma série que se recomenda de imediato, pois ela precisa de um tempo para que a pessoa se ambiente. Ela também não é constante, é irregular, principalmente se o espectador se ligar demais nos personagens, que como disse antes, podem sumir. Mas quem se acostuma ou já é fã do Kelley de outras produções vai se deliciar.

Dexter - Terceira Temporada (Dexter - 3rd Season)

Se a segunda temporada já não foi tão boa quanto a primeira, desenvolvendo um arco em que uma personagem começa a ficar tão caricata que parece ter aprendido chantagens absurdas com os personagens de Melrose essa terceira é ainda mais fraca evidenciando padrões ruins e desenvolvendo outros piores.

Padrões ruins: todo personagem que se aproxima de Dexter e passa a entendê-lo terá um fim trágico pois se revelará ser um perigo para Dexter; todo namorado da irmã de Dexter vai ter algum rolo com a polícia; toda pessoa próxima da capitã vai morrer; todo caso vai fazer com que as investigações se direcionem para Dexter e ele vai fazer de tudo para desviar o foco, com a irmã sempre chegando perto da verdade. Padrão criado nessa temporada que é pior: Dexter passa a interagir com o fantasma do pai (o que lembra porcamente A Sete Palmos) ao invés de haver flashbacks elucidativos, o pai agora é um Grilo Falante do Dexter, o aconselhando conforme as coisas vão acontecendo.

Jimmy Smits como antagonista principal não agradou muito. Poucas as vezes que o acho suportável. Há algo de má interpretação misturado com uma persona nada agradável nele. Gostava dele lá atrás em L.A. Law (do David E. Kelley). Ao menos na parte final ficou muito bem por ficar totalmente odiável no personagem.

O que salva? Situações em que Dexter ainda é o Dexter de antes. E Debra, a irmã de Dexter, cada vez mais boca suja, cada vez melhor e de onde as cenas mais emocionais vieram, pois ela é o centro emocional da série, é dela que Dexter encontra amor incondicional, é dela que vem a paixão pela investigação, é dela que vem o desespero por certos personagens, ela é o contraponto para a falta de emoção que há em Dexter. Suas cenas são as melhores da temporada (ela recebendo a insígnia, ela sabendo que o pai tinha uma amante, ela atrás da localização de Anton, ela se declarando para ele, etcs). Jennifer Carpenter rules!


posted by RENATO DOHO 2:01 PM
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